domingo, 2 de janeiro de 2011

Feliz ano velho


Eu sinto sua falta.

Hoje a saudade veio me visitar, às vezes acho que ela se mudou pra minha casa, e não pretende ir embora nem tão cedo. Ela tem um gosto doce à ponto de amargar, é felicidade misturada com tristeza, uma vontade infinita de reencontrar ela e dizer algumas coisas que faltaram ser ditas.

Quando eu era criança, minha família costumava viajar para o interior de São Paulo nos finais de ano para visitar meus avós, só que havia um problema: meus avós paternos moravam em um bairro e minha avó materna em outro bairro a 15 km, meu avô materno morreu antes de eu nascer. Revezávamos durante o Natal e sempre passávamos o réveillon no bairro da minha avó materna, pois lá era mais animado e os fogos de artifício duravam mais, eram simplesmente lindo. Eu sempre fui apaixonada pelos meus avós paternos, Dona Maria e seu Antonio Prates. Sempre existiu um amor enorme e um afeto infinito que nos unia feito pais e filho, talvez seja porque eles eram muito parecidos com os meus pais e para constar aqui: os meus pais são o maior amor da minha vida, as duas maiores pessoas do mundo, do meu mundo...

Noite de Réveillon, todas as crianças na rua, e os fogos começavam a alcançar o céu. Eu ficava paralisada com tamanha beleza, ficava completamente deslumbrada e poderia ficar ali durante horas, mas os fogos duravam apenas 5 minutos e eu precisava apreciá-los. O barulho me ajudava a ignorar tudo a minha volta, e durante os 5 minutos existiam apenas aquele céu lindo encantado pelas luzes e os meus olhos atentos. Depois da virada de ano meu pai ligava para os meus avós, que estavam em outro bairro, para desejar feliz ano novo, e sempre chamava minha irmã, minha mãe e eu para falar com eles no telefone. Eu nunca queria ir, queria ficar olhando para o céu até o ultimo vestígio de pólvora e fogo sumir. Às vezes eu até me distanciava dos meus pais para evitar toda aquela cerimônia. Mesmo amando meus avós eu sabia que iria vê-los no outro dia e poderia muito bem desejar feliz ano novo na manhã seguinte. Acontece que a criança fascinada pelas luzes não podia imaginar que nada dura para sempre, assim como os fogos, tudo um dia se apaga e o show termina.

Alguns anos se passaram, e minha avó, a mulher que eu amava sem medidas foi embora, morar em um lugar muito mais bonito que esse, e deixou em mim uma saudade sem fim. Mais alguns anos se passaram e eu descobri que meu avô paterno não era nada do que eu pensava, simplesmente uma pessoa sem escrúpulos e que eu me enganei durante toda a minha vida sobre ele. Desde então não viajamos mais no final do ano, e não há réveillon que eu não chore descompassadamente de saudade, de vontade de pegar o telefone e ligar pra minha avó, dizer que ela foi uma grande mulher, dizer que ela faz muita falta na minha vida e que os shows de fogos nunca mais tiveram tanta graça de quando ela ainda vivia.

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